quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Um passeio domingueiro esperado...

Oi gente,


Para os transgêneros que iniciaram uma transição, a cada conquista vitoriosa se estabelece um novo patamar.
Assim foi na época em que eu saia sózinha, escondida no meio da noite, para uma voltinha de carro nas cidades onde eu passava a trabalho.

O mêdo era angustiante, pois não estava livre de acontecer algum acidente, um defeito no carro, uma fiscalização de trânsito, sei lá, qualquer coisa que pudesse me levar a algum constrangimento, ou que meu segredo fôsse revelado.
Pois bem, veio o BCC, os encontros, as saídas noturnas com amigas do clube, ousados jantares em restaurantes familiares, passeios em shoppings, fiz viagens longas como mulher, de avião, de carro, de ônibus, sempre fui muito bem recebida e tratada em todos os Hotéis em que me hospedei, inclusive com "check in" em nome de Cristina Camps. Enfim, fiz tudo o que um CD que eu imaginava ser, gostaria de ter feito.
Hoje, convicta da minha transexualidade, já tenho uma certa liberdade no meio profissional e a opção por iniciar uma transição para uma vida plena feminina é algo natural e consequente.
Desde que iniciei meu tratamento hormonal há quase dez anos, não reparei grandes mudanças em meu bio-tipo a não ser um rosto um pouco mais feminino e um belo parzinho de melõezinhos no peito que carrego com todo orgulho. São os meus troféus. Mas algo aconteceu em meu metabolismo que me permite mais tolerância, compaixão, dó, observância de detalhes, assim como qualquer mulher.
Para quem me conhece, sabe que não tenho afetações ou conduta e gestos exagerados, como seguidamente vemos em algumas CD´s ou travestis. Distorcer a naturalidade, no meu entender, fica ridículo. Minha voz é natural, embora um pouco educada no que diz respeito ao volume numa conversação, ou na maneira pausada de me expressar. Características femininas, independente do tom da voz.
Mas faltava uma coisa que há tempos eu desejava fazer e por pura falta de tempo - não pela liberdade de andar hoje por onde quero - ainda não havia feito. Algo que para uma transexual, com uma certa experiencia, poderia ser banal: passear no "Bric da Redenção" em Porto Alegre.
O "Bric da Redenção" é um Shopping de "quinquilharias" e artesanatos a Céu aberto, e reúne nas manhãs de Domingo numa Rua adjacente ao Parque da Redenção, no coração de Porto Alegre, milhares de pessoas. São famílias inteiras passeando, senhoras com seus cachorrinhos cheios de fitinhas, ambulantes vendendo tudo o que se pode imaginar, mocinhas de leg´s correndo para manter a forma, gordos comendo pipoca e cachorro-quente, criança prá cá - criança prá lá, pais correndo atrás delas (das crianças), índiozinhos cantando suas canções típicas, hippies com grandes mostruários de bijus, políticos, religiosos, torcedores em trânsito para os estádios, enfim, uma grandiosa "Torre de Babel", talvez a maior do Brasil, na simpática e pacata Porto Alegre domingueira.


Me arrumei com discrição, mais para um "look" despojado e adequado para um Domingo pela manhã, com uma calça leg, tennis, e uma blusinha de gola canoa, e fui sózinha, já que a Lili preferiu ficar em casa. Quase sem maquiagem, apenas com um batonzinho claro e o rímel que não dispenso, andei no meio da multidão, comi churros com dôce de leite light...eheheh...comprei um parzinho de brinquinhos, brinquei com cachorrinhos, e ainda ganhei um beijo de uma senhora que me abordou pensando que me conhecia. Ora vejam, tem alguma outra Cris por aí...rss


Mas foi bom, fiz algo que talvez tenha sido a última das barreiras que eu tinha, e que agora está derrubada. Finalmente estou me sentindo bem, sem culpas e com alma lavada, recuperando meu lado profissional e familiar, e tentando apenas ser feliz...    
Um grande beijo prá vocês e uma ótima semana prá todos,

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